{"title":"Ciência Aberta e Periódicos Científicos: desafios do novo modelo de comunicar a ciência","authors":"R. D. A. D. S. Abreu","doi":"10.32712/2446-4775.2022.1445","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Em Editorial publicado no Número 1 do Volume 13 de 2019, trazíamos a discussão sobre os desafios do Acesso Aberto (AA) e da Ciência Aberta (CA), evidenciando que estava em curso um novo modo de produzir e comunicar ciência. Por sua vez, seguimos o movimento da Fiocruz no que se refere à Política de Acesso Aberto e Ciência Aberta, buscando caminhar conjuntamente com os demais periódicos científicos da instituição, participando de discussões e eventos sobre o assunto. \nPassado esse tempo, retornamos ao tema neste primeiro editorial de 2022, visando trazer algumas reflexões desenvolvidas a partir de nossa prática editorial, reafirmando o nosso compromisso com CA. \nApesar da temática da CA ter se desenvolvido, especialmente, na Europa e nos USA, no Brasil ela vem avançando gradativamente, até porque a ciência brasileira trava uma luta pelo seu reconhecimento internacional e, atualmente, também nacional. No que se refere às políticas públicas para a publicação científica brasileira, também se observa um descompasso com a urgência do mundo atual. Apesar do quadro nefasto, não se pode paralisar, mas buscar saídas para investir na melhoria da produção e comunicação científica brasileira. \nSegundo Sales e Shintaku[1], a CA apresenta-se como uma força que poderá permitir avanço científico como nunca já visto. Por sua vez, concordamos com Albagli[2] quando diz que essa temática provoca forte tensão entre a socialização do conhecimento, da informação e da cultura e sua privatização, remexendo com as relações entre saber e poder, que tanto impactam os processos sócio-econômico-culturais. \nA definição de Ciência Aberta[2] é abrangente, pois engloba vários movimentos que visam a abertura de todo o processo de pesquisa, visando compartilhar qualquer tipo de resultado, recursos, métodos ou ferramentas empregadas no processo de investigação. Dessa forma, está inserido na CA, o acesso aberto a publicações, os dados abertos de pesquisa, os softwares de código aberto, a colaboração aberta, a revisão por pares aberta, os cadernos abertos de anotações, os recursos educacionais abertos, as monografias abertas, a ciência cidadã ou crowdfunding de pesquisa. Enfim, trata-se de um novo paradigma já em curso, um novo modo de fazer ciência que se baseia em três princípios: a ciência deve ser aberta, colaborativa e feita com e para a sociedade. \nO fato de a Revista Fitos ter como foco e escopo a publicação de trabalhos científicos que contribuam para: o pensamento crítico em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) em Biodiversidade e Saúde; de ser uma publicação inter e transdisciplinar das áreas do conhecimento (saúde, humanas e tecnológicas); estar online e em acesso aberto desde 2014; que busca ampliar a compreensão das complexas interrelações entre biodiversidade e saúde humana; que estimula a colaboração entre os setores para um desenvolvimento sustentável; que adota a concepção de inovação como um processo social, dinâmico e em rede, exige que se adote o modelo de comunicação científica que leva em conta a ética, integridade na pesquisa e investigação e inovação responsáveis. \nAs duas primeiras categorias – ética e integridade - são destacadas por Inácio e Amante[3] como aquelas que sempre foram fundamentais para a ciência. No entanto, as autoras advertem que a novidade está na categoria investigação e a inovação responsáveis, pois diferente das outras duas que são do âmbito dos valores, essa última categoria está no âmbito do comportamento. A propósito, destacam: \nAs características do novo modelo de fazer e comunicar ciência serão, assim, as que estão preconizadas no âmbito da investigação responsável com vistas à inovação, a saber: abertura, transparência, diversidades, inclusão, responsividade, adaptação, antecipação e reflexão. \nDessa forma, como sinalizou Albagli[2], tensões emergem no campo do domínio do conhecimento, da descoberta, já que práticas como: abertura e transparência de dados, colaboração e parceria, liberdade de pensamento, inclusão e igualdade de oportunidades constituem o novo modelo de produção e comunicação científica, mas são conflitantes com o modelo tradicional vigente nas últimas décadas do século XX. Este modelo caracterizava-se, principalmente, pela obsessão à propriedade intelectual, levando pesquisadores e autores, ou seja, aqueles arraigados a esse modelo a ter resistências à CA. \nÉ certo que o desenvolvimento das tecnologias digitais contribuiu, em muito, para a disseminação dos resultados das pesquisas pelos periódicos científicos que utilizam a modalidade online de publicação, mas observou-se que a maioria dos periódicos levou para esta modalidade o mesmo tipo de gestão editorial realizado nas revistas físicas. \nNessa linha, Santos e Calò[4] complementaram que, apesar de boa parte dos pesquisadores seguir publicando seus trabalhos de forma conservadora, o atual panorama da comunicação científica é extremamente dinâmico e tem sido, em grande medida, impactado e modificado pelo uso de ferramentas de gestão das atividades e do fluxo de pesquisa da CA. \nProcurando, portanto, absorver o novo modelo de comunicação científica e avançando cuidadosamente nas práticas editoriais para a CA, a Revista Fitos vem implementando algumas ações, baseadas nos princípios FAIR (Findable, Accessible, Interoperable, and Reusable) que possibilita aos dados e metadados dos artigos publicados serem facilmente encontrados e acessíveis, usando os identificadores disponíveis, assim como publicando em sistemas que possibilitem a interoperabilidade. Ainda não foi possível implementar alguma prática para atender ao princípio de reuso de dados, mas está previsto para um futuro próximo. \nA Revista Fitos adota hoje as seguintes práticas no processo de submissão dos artigos: precisão à afiliação e à citação; aplicação do Digital Object Identifier (DOI) em todos as suas publicações, exigência de cadastro dos autores Open Researcher and Contributor ID – ORCID, e apresentação dos Termos de Sessão de Direitos Autorais de todos os autores e coautores. Além disso, a revista adota a publicação dos artigos em PDF, HTML e XML para garantir a interoperabilidade entre os demais sistemas de informação; publica os artigos avaliados e aprovados em ahead of print, dando visibilidade imediata para citação; mantém um fluxo dinâmico e contínuo de submissão que pode ser realizada a qualquer momento; busca divulgar suas publicações em diferentes ferramentas de comunicação (Facebook, Blog, Instagram), procurando dar visibilidade e garantir as métricas alternativas, além das bases indexadoras às quais a revista está inserida. \nEm nossa prática cotidiana, percebemos que os autores desconhecem a importância de ações simples, mas extremamente relevantes para a visibilidade de seu trabalho e, consequentemente, da revista. Uma delas é o preenchimento correto e completo dos dados pessoais e de afiliação e dos identificadores pessoais. Por sua vez, observa-se que os autores também não se envolvem na divulgação do seu artigo publicado, esperando pela divulgação da revista, desconhecendo que existe um espaço que precisa ser assumido por eles, produzindo textos de fácil compreensão de sua pesquisa e resultados para divulgação em outros meios utilizados pela revista. Também precisam divulgar seu artigo em suas redes sociais individuais e profissionais para que seu artigo atinja um público ainda maior. \nÉ nessa perspectiva, portanto, que trazemos como meta para 2022 intensificar a discussão sobre CA e suas práticas, visando a implementação de forma gradativa e cuidadosa de novos formatos de avaliação e de apresentação no periódico. \nNessa linha, convidamos editores, avaliadores, autores e leitores a participarem desse processo, visando uma construção colaborativa, com responsabilidade e clareza. \nDrª Rosane de Albuquerque dos Santos AbreuEditora Executiva","PeriodicalId":305076,"journal":{"name":"Revista Fitos","volume":"52 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2022-03-31","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Revista Fitos","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.32712/2446-4775.2022.1445","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
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Abstract
Em Editorial publicado no Número 1 do Volume 13 de 2019, trazíamos a discussão sobre os desafios do Acesso Aberto (AA) e da Ciência Aberta (CA), evidenciando que estava em curso um novo modo de produzir e comunicar ciência. Por sua vez, seguimos o movimento da Fiocruz no que se refere à Política de Acesso Aberto e Ciência Aberta, buscando caminhar conjuntamente com os demais periódicos científicos da instituição, participando de discussões e eventos sobre o assunto.
Passado esse tempo, retornamos ao tema neste primeiro editorial de 2022, visando trazer algumas reflexões desenvolvidas a partir de nossa prática editorial, reafirmando o nosso compromisso com CA.
Apesar da temática da CA ter se desenvolvido, especialmente, na Europa e nos USA, no Brasil ela vem avançando gradativamente, até porque a ciência brasileira trava uma luta pelo seu reconhecimento internacional e, atualmente, também nacional. No que se refere às políticas públicas para a publicação científica brasileira, também se observa um descompasso com a urgência do mundo atual. Apesar do quadro nefasto, não se pode paralisar, mas buscar saídas para investir na melhoria da produção e comunicação científica brasileira.
Segundo Sales e Shintaku[1], a CA apresenta-se como uma força que poderá permitir avanço científico como nunca já visto. Por sua vez, concordamos com Albagli[2] quando diz que essa temática provoca forte tensão entre a socialização do conhecimento, da informação e da cultura e sua privatização, remexendo com as relações entre saber e poder, que tanto impactam os processos sócio-econômico-culturais.
A definição de Ciência Aberta[2] é abrangente, pois engloba vários movimentos que visam a abertura de todo o processo de pesquisa, visando compartilhar qualquer tipo de resultado, recursos, métodos ou ferramentas empregadas no processo de investigação. Dessa forma, está inserido na CA, o acesso aberto a publicações, os dados abertos de pesquisa, os softwares de código aberto, a colaboração aberta, a revisão por pares aberta, os cadernos abertos de anotações, os recursos educacionais abertos, as monografias abertas, a ciência cidadã ou crowdfunding de pesquisa. Enfim, trata-se de um novo paradigma já em curso, um novo modo de fazer ciência que se baseia em três princípios: a ciência deve ser aberta, colaborativa e feita com e para a sociedade.
O fato de a Revista Fitos ter como foco e escopo a publicação de trabalhos científicos que contribuam para: o pensamento crítico em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) em Biodiversidade e Saúde; de ser uma publicação inter e transdisciplinar das áreas do conhecimento (saúde, humanas e tecnológicas); estar online e em acesso aberto desde 2014; que busca ampliar a compreensão das complexas interrelações entre biodiversidade e saúde humana; que estimula a colaboração entre os setores para um desenvolvimento sustentável; que adota a concepção de inovação como um processo social, dinâmico e em rede, exige que se adote o modelo de comunicação científica que leva em conta a ética, integridade na pesquisa e investigação e inovação responsáveis.
As duas primeiras categorias – ética e integridade - são destacadas por Inácio e Amante[3] como aquelas que sempre foram fundamentais para a ciência. No entanto, as autoras advertem que a novidade está na categoria investigação e a inovação responsáveis, pois diferente das outras duas que são do âmbito dos valores, essa última categoria está no âmbito do comportamento. A propósito, destacam:
As características do novo modelo de fazer e comunicar ciência serão, assim, as que estão preconizadas no âmbito da investigação responsável com vistas à inovação, a saber: abertura, transparência, diversidades, inclusão, responsividade, adaptação, antecipação e reflexão.
Dessa forma, como sinalizou Albagli[2], tensões emergem no campo do domínio do conhecimento, da descoberta, já que práticas como: abertura e transparência de dados, colaboração e parceria, liberdade de pensamento, inclusão e igualdade de oportunidades constituem o novo modelo de produção e comunicação científica, mas são conflitantes com o modelo tradicional vigente nas últimas décadas do século XX. Este modelo caracterizava-se, principalmente, pela obsessão à propriedade intelectual, levando pesquisadores e autores, ou seja, aqueles arraigados a esse modelo a ter resistências à CA.
É certo que o desenvolvimento das tecnologias digitais contribuiu, em muito, para a disseminação dos resultados das pesquisas pelos periódicos científicos que utilizam a modalidade online de publicação, mas observou-se que a maioria dos periódicos levou para esta modalidade o mesmo tipo de gestão editorial realizado nas revistas físicas.
Nessa linha, Santos e Calò[4] complementaram que, apesar de boa parte dos pesquisadores seguir publicando seus trabalhos de forma conservadora, o atual panorama da comunicação científica é extremamente dinâmico e tem sido, em grande medida, impactado e modificado pelo uso de ferramentas de gestão das atividades e do fluxo de pesquisa da CA.
Procurando, portanto, absorver o novo modelo de comunicação científica e avançando cuidadosamente nas práticas editoriais para a CA, a Revista Fitos vem implementando algumas ações, baseadas nos princípios FAIR (Findable, Accessible, Interoperable, and Reusable) que possibilita aos dados e metadados dos artigos publicados serem facilmente encontrados e acessíveis, usando os identificadores disponíveis, assim como publicando em sistemas que possibilitem a interoperabilidade. Ainda não foi possível implementar alguma prática para atender ao princípio de reuso de dados, mas está previsto para um futuro próximo.
A Revista Fitos adota hoje as seguintes práticas no processo de submissão dos artigos: precisão à afiliação e à citação; aplicação do Digital Object Identifier (DOI) em todos as suas publicações, exigência de cadastro dos autores Open Researcher and Contributor ID – ORCID, e apresentação dos Termos de Sessão de Direitos Autorais de todos os autores e coautores. Além disso, a revista adota a publicação dos artigos em PDF, HTML e XML para garantir a interoperabilidade entre os demais sistemas de informação; publica os artigos avaliados e aprovados em ahead of print, dando visibilidade imediata para citação; mantém um fluxo dinâmico e contínuo de submissão que pode ser realizada a qualquer momento; busca divulgar suas publicações em diferentes ferramentas de comunicação (Facebook, Blog, Instagram), procurando dar visibilidade e garantir as métricas alternativas, além das bases indexadoras às quais a revista está inserida.
Em nossa prática cotidiana, percebemos que os autores desconhecem a importância de ações simples, mas extremamente relevantes para a visibilidade de seu trabalho e, consequentemente, da revista. Uma delas é o preenchimento correto e completo dos dados pessoais e de afiliação e dos identificadores pessoais. Por sua vez, observa-se que os autores também não se envolvem na divulgação do seu artigo publicado, esperando pela divulgação da revista, desconhecendo que existe um espaço que precisa ser assumido por eles, produzindo textos de fácil compreensão de sua pesquisa e resultados para divulgação em outros meios utilizados pela revista. Também precisam divulgar seu artigo em suas redes sociais individuais e profissionais para que seu artigo atinja um público ainda maior.
É nessa perspectiva, portanto, que trazemos como meta para 2022 intensificar a discussão sobre CA e suas práticas, visando a implementação de forma gradativa e cuidadosa de novos formatos de avaliação e de apresentação no periódico.
Nessa linha, convidamos editores, avaliadores, autores e leitores a participarem desse processo, visando uma construção colaborativa, com responsabilidade e clareza.
Drª Rosane de Albuquerque dos Santos AbreuEditora Executiva
合同,桑托斯和石灰美好[4]补充,虽然大部分的研究人员出版你的作品同样保守,现今的科学传播是非常动态的景观,也有影响,在很大程度上和修改活动的管理工具的使用和流动的研究。因此,在吸收新的科学传播模式和过程中经过实践庞大到CA,Fitos杂志已经实施了一些基于公平原则(可查找、可访问、可互操作和可重用)的行动,使已发表文章的数据和元数据易于找到和访问,使用可用的标识符,并在实现互操作性的系统中发布。目前还不可能实现任何符合数据重用原则的实践,但预计在不久的将来会实现。《Fitos》杂志在提交文章的过程中采用了以下做法:归属和引用的准确性;在其所有出版物中应用数字对象标识符(DOI),要求作者注册开放研究人员和贡献者ID - ORCID,并提交所有作者和合著者的版权会议条款。此外,期刊采用PDF、HTML和XML格式发表文章,以确保其他信息系统之间的互操作性;在ahead of print上发表经过评估和批准的文章,为引用提供即时可见性;保持动态和连续的提交流,可以在任何时候执行;它寻求在不同的交流工具(Facebook、博客、Instagram)中传播其出版物,寻求提供可视性并确保替代指标,以及期刊插入的索引基础。在我们的日常实践中,我们意识到作者没有意识到简单行动的重要性,但与他们的工作和杂志的可见性非常相关。其中之一是正确和完整地填写个人和会员数据和个人标识符。反过来看,作者也不伤害等传播,传播的报道,知道有一个杂志的空间需要由他们自身产生的,容易理解的研究文献和研究报告披露所使用在其他杂志。他们还需要在他们的个人和专业社交网络上传播他们的文章,这样他们的文章才能接触到更广泛的受众。因此,正是从这个角度出发,我们提出了2022年的目标,即加强对CA及其实践的讨论,旨在逐步和仔细地实施新的评估和报告格式。因此,我们邀请编辑、评价者、作者和读者参与这一过程,以责任和清晰的协作构建为目标。Rosane de Albuquerque dos Santos博士执行编辑