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Abstract
O presente estudo analisa o tratamento mediático do fluxo migratório em direção à Europa num período de intensa visibilidade da questão na imprensa nacional (setembro e outubro de 2015), num corpus de textos de opinião e títulos de outros textos jornalísticos de três publicações generalistas de referência no âmbito nacional. Recorre aos fundamentos teóricos e aos instrumentos metodológicos da análise do(s) discurso(s), tomada em sentido amplo (Adam, 2011; Berthoud & Mondada, 1995; Charaudeau, 1997, Moirand 1999, 2006; Rabatel & Chauvin-Vileno 2006, nomeadamente), para descrever e analisar a construção discursiva das imagens dos migrantes em contraste com as dos europeus, com saliência para a dêixis pessoal, as escolhas lexicais e os processos de modalização, marcados nos discursos. Conclui que o discurso dos média foi fundamental para a construção discursiva do acontecimento social protagonizado pela chegada massiva de refugiados e migrantes à Europa. Essa construção articula-se em torno de dois grupos, nós e eles. Na atividade de referenciação levada a cabo, ocorre um processo de categorização e recategorização que aponta para a construção de um grupo homogéneo, eles, os outros, em torno de diferentes designações, mas maioritariamente em torno da designação “refugiado”. Em contraste com tal homogeneidade, o grupo constituído por nós, os europeus, está fraturado por dissensos em torno de valores, frequentemente marcados em estruturas paralelísticas opositivas. Os modos de referenciação, que convocam o conhecimento partilhado sobre a guerra, e a modalidade avaliativa enquadram o posicionamento dos locutores-enunciadores envolvidos na construção da opinião pública e conferem aos discursos uma vertente emocional forte.