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Abstract
“Tomar a cidade como plano de referência”, como nos diz Vera Telles nesse dossiê. Não para produzir modelagem teórica ou mesmo “teoria urbana”, que pudesse ser convenientemente setorializada em alguma disciplina, ou em alguma área de governo, algum segmento de mercado. A cidade como referência implica a busca por um diagrama de relações pelo qual se possa vislumbrar como se monta o problema social contemporâneo, bem como suas implicações públicas, políticas. Problema que, por estar cruzado por temáticas as mais diversas, das mudanças no trabalho às moralidades que o atravessam, de efeitos de estado e dinâmicas de mercado às transições religiosas, dos modos de racialização dos corpos, territórios e coletivos às maneiras de se regular a violência e os mercados ilegais, mas também de distribuir programas e “direitos” sociais aos pobres, riquezas maiores aos ricos. Feixe de problemas que, por demasiado complexos, não pode ser apreendido senão no miúdo das situações empíricas, a partir de pesquisa de campo. Essa a aposta desse dossiê. As relações traçadas entre essas diferentes temáticas, a princípio díspares mas aqui todas presentes, não são, assim, criadas pelos pesquisadores. É o mundo no qual fazem pesquisa que as conecta. O artigo de Daniel Cefaï abre o dossiê, por isso, perscrutando questões centrais ao fazer etnográfico, que sustenta os argumentos de todos os textos aqui reunidos. Demarcam-se ali fundamentos da virada empírica da sociologia contemporânea, que toca em problemas epistemológicos nada triviais, aqui trabalhados no convívio com moradores de rua de Paris e aqueles que os atendem. É nessa interface empírico-analítica que aparecem, inscritos na própria experiência metodológica, os conteúdos em pauta: modos como se monta o problema público da vida na rua, central para a montagem da questão social contemporânea, de amplitude internacional. Questões políticas e intelectuais, portanto, que se inscrevem no próprio problema empírico a analisar e, por isso, abrem novas formas de compreensão.