Fabiano Chagas Rabêlo, Reginaldo Rodrigues Dias, Karla Patrícia Holanda Martins
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Abstract
Partindo da assertiva de que a realização do feminino não se limita à identificação às insígnias fálicas, comenta-se o livro Beira rio beira vida de Assis Brasil. Reconhece-se que cada uma das personagens da história – avó, mãe e filha – confronta-se com o desafio de desenvolver uma forma própria de se tornar mulher, valendo-se, para tanto, dos significantes e semblantes que lhes chegam da linhagem familiar. Defende-se que a sobredeterminação dos enunciados de Luíza e as respostas lacônicas, opacas e evasivas de Mundoca incitam uma tomada de posição ética e política do leitor diante do enigma do feminino e da transmissão intergeracional da maldição familiar, tal como é designada a prostituição no livro. Conclui-se que a prostituição não é um destino inexorável para as personagens e que Mundoca, a terceira geração, não transparece uma posição subjetiva nítida, o que dá margens para se conjecturar diferentes possibilidades de realização do legado familiar. Identifica-se, por sua vez, do lado de Luíza e Cremilda, a invenção de alguns semblantes que podem ter servido de barreira à devastação e ao agravamento de algumas situações de vulnerabilidade psíquica. Ao final, destaca-se a importância de determinados arranjos em torno do feminino que acompanham algumas experiências de sofrimento em mulheres, considerando os possíveis destinos da transmissão familiar. Cita-se, como exemplo disso, o trabalho de perlaboração por Luíza de seu devir feminino e de seu lugar na linhagem de mulheres que acompanha a costura das roupas da boneca Ceci. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, não sistemática, que interroga as vicissitudes do feminino e da transmissão a partir do diálogo da psicanálise com a literatura, em interlocução com estudos de gênero, culturais e literários.