Para roubar o fogo dos deuses: Alan Turing (1912-1954), Prometeu moderno

Abstract

Turing é frequentemente identificado como fundador da ciência da computação moderna, das ciências cognitivas e da inteligência artificial. Menos de cem anos após seus artigos seminais de 1936 e 1950, o mundo se encontra à beira de consolidar um processo de mediação da experiência por artifícios digitais. Pelo papel inaugural de Turing, cabe indagar sobre suas pretensões. Darei destaque a uma das principais influências sobre Turing, o romance utópico ou distópico Erewhon, de Samuel Butler, cuja ideia central apareceu em 1863 como “Darwin entre as máquinas” propondo considerar, na esteira da revolução industrial, a possibilidade do “reino mecânico” subverter a supremacia da espécie humana. Meus estudos sugerem a associação de Turing à tradição moderna de explicações mecanicistas do estatuto do humano. Turing como filósofo da natureza, entretanto, foi ousado. Uma vez confrontado publicamente por conservadores, ele manifestou em ironia fina a face que levaria um contemporâneo a caracterizá-lo como um “Shelley científico” em referência ao poeta romântico inglês autor de Prometeu desacorrentado. Seguindo Butler, Turing entendia as máquinas como uma espécie própria que detinha o potencial de esclarecer a espécie humana, mesmo que a nosso contragosto.