Processos de Marginalização Étnica e Cultural na África Pós-Colonial. O Caso dos Amakhuwa de Moçambique

Luca Bussotti, Laura António Nhaueleque
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Abstract

Apesar de a questão étnica nunca ter constituído um elemento explícito na construção do Estado moçambicano, esta sempre caracterizou a vida pública do país, com tensões relevantes, mas geralmente negligenciadas. Durante a luta de libertação, dois grupos étnicos aliaram-se, os “intelectuais” ronga e os “guerrilheiros” maconde, de facto excluindo os outros povos de Moçambique deste processo que irá marcar indelevelmente a história do país pós-colonial. Na época socialista, o lema “matar a tribo para fazer a nação” continuou a procrastinar o “esquecimento étnico”, prefigurando uma tentativa, malsucedida, de impor o modelo socialista autoritário formulado pelos ronga e machangana a todo o resto do país. A mesma situação se deu com a viragem democrática da década de 1990. Neste caso, diante de um pluralismo formal, os elementos de poder, assim como culturais e artísticos privilegiados foram, mais uma vez, os produzidos no sul (timbila e marrabenta) e no norte, pelos maconde (mapiko e esculturas), em detrimento de outros povos, entre os quais os amakhuwa, o grupo numericamente maioritário em Moçambique. Para este processo de marginalização étnica contribuíram doadores e investigadores internacionais, que aceitaram e desenvolveram a pauta proposta pela Frente de Libertação de Moçambique, interpretando práticas tradicionais como os ritos de iniciação sob o ponto de vista da violação dos direitos humanos. A pesquisa aqui apresentada traz evidências de como este longo processo de esquecimento étnico foi, em boa verdade, um programa político pensado e implementado desde a luta de libertação e que continuou, com as necessárias adaptações, até hoje, influindo diretamente na difusão da produção cultural e artística local. A abordagem usada foi de tipo histórico, com contínuos cruzamentos com a análise política e as políticas culturais de Moçambique.
后殖民非洲的种族和文化边缘化进程。莫桑比克的Amakhuwa案例
虽然种族问题从未成为莫桑比克国家建设的一个明确因素,但它一直是该国公共生活的特点,存在着相关但通常被忽视的紧张局势。在解放斗争中,两个民族联合起来,“知识分子”ronga和“游击队”maconde,实际上把莫桑比克的其他民族排除在这一进程之外,这一进程将不可磨灭地标志着这个后殖民国家的历史。在社会主义时代,“杀死部落,建设国家”的口号继续拖延“民族遗忘”,预示着将隆加和马尚加纳制定的威权社会主义模式强加于全国其他地区的失败尝试。20世纪90年代的民主转型也发生了同样的情况。正式在这种情况下,在一个多元化的元素力量,就像艺术和文化汇集了再一次的出现在南方(timbila)和北方marrabenta maconde (mapiko和雕塑),其他所有的人,包括amakhuwa以色列这个国家,一批以莫桑比克。捐助者和国际研究人员对这一种族边缘化进程作出了贡献,他们接受并发展了莫桑比克解放阵线提出的议程,从侵犯人权的角度解释诸如入会仪式等传统做法。这里提出的研究提供了证据,证明这个长期的民族遗忘过程实际上是一个政治计划,自解放斗争以来一直在思考和实施,并继续进行必要的调整,直到今天,直接影响了当地文化和艺术生产的传播。所采用的方法是历史的,与政治分析和莫桑比克的文化政策不断交叉。
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