{"title":"ILÊ OJU ODÉ: POLÍTICAS DE RESISTÊNCIA E TERRITORIALIDADES NO CANDOMBLÉ DE GOIÁS","authors":"Victor Hugo Basílio Nunes","doi":"10.22533/at.ed.59419230814","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Este trabalho se desenvolve junto ao terreiro de candomble Ile Oju Ode, situado na Rua Machado \nde Assis, chacara 37, Cidade Satelite Sao Luis, em Aparecida de Goiânia-GO, e nos espacos de \natuacao deste terreiro atraves do Afoxe Omo Ode e da organizacao do Forum Goiano de Religioes \nde Matriz Africana. Nosso objetivo principal e pensar de que forma a atuacao do Ile Oju Ode, por \nmeio do Afoxe e do Forum, possibilita a valorizacao do aporte cultural afrodescendente, cria um \nespaco de discussao politica no qual o terreiro se torna um espaco de ressignificacao da vida. A \nconvivencia diaria com esta comunidade nos mostrou a complexidade desta realidade social, \nmarcada por uma relacao de sociabilidade que se aproxima da observada por Catherine Walsh \n(2013) ao afirmar que as pedagogias decoloniais produzem uma “intersubjetividade, \nreconhecimento mutuo, solidariedade subalterna”. Desta forma religiao e organizacao politica se \nmisturam na busca de encontrar saidas para os problemas criados por uma sociedade racista, o que \nfaz surgir a necessidade de organizacao dos terreiros. As reflexoes de Carlos Rodrigues Brandao \n(1999) nos orientaram no sentido de definir a pesquisa participante como uma das metodologias do \nnosso trabalho. Num primeiro momento buscamos compreender a perspectiva interna, o ponto de \nvista dos individuos acerca das situacoes que vivem. Compreendemos assim como Brandao (1999) \nque e a realidade social com a qual nos deparamos que deve determinar as estrategias \nmetodologicas, e que o metodo nao e algo pronto e acabado podendo ser construido junto com a \ninvestigacao da realidade social. O outro recurso metodologico ao qual recorremos, a historia oral, \nserviu a nossa pesquisa uma vez que, objetivamos, ao recorrer a fala de nossos entrevistados, \natingir com o maximo de clareza a experiencia de organizacao contra a matriz colonial do poder, \nque articula a marginalizacao social e epistemica, subalternizando saberes e populacoes, como no \nexemplo do candomble. Acreditamos que nosso objetivo foi alcancado por meio da entrevista \nsemiestruturada, levando em consideracao que a entrevista possibilita um estudo sobre o relato dos \nfatos, filtrados pela subjetividade dos entrevistados. A perspectiva teorica que utilizamos para \ndialogar com nossas fontes consistiu no debate conduzido pelo grupo \nmodernidade/colonialidade/decolonialidade. A pesquisa nos mostrou que se quisermos podemos \npensar uma relacao entre o candomble e as reflexoes levantadas por este grupo. Podemos afirmar, a \npartir da experiencia no terreiro pesquisado, que o candomble se constitui como conhecimento \nalternativo a matriz do pensamento colonial, ou utilizando o conceito de Walsh (2013) como \nexemplo de uma “pedagogia decolonial”. Por fim, a conclusao dessa dissertacao de mestrado \nconfirmou as hipoteses que levantamos no inicio de nossa pesquisa: a atuacao do Ile Oju Ode se \ncaracteriza como pratica de descolonizacao, uma vez que atraves do Forum e do Afoxe, organiza a \ncomunidade dos terreiros de candomble de Goiânia e regiao metropolitana no combate ao racismo, \na intolerância religiosa e a invisibilizacao imposta aos praticantes dessa religiao na sociedade \ngoiana. Nossa pesquisa nos mostrou que ha um nivel significativo de conscientizacao dos \nindividuos, um projeto politico. Um estudo como esse pode contribuir para se perceber a \ndecolonialidade como proposicao alternativa as epistemologias hegemonicas que sustentam \nmodelos e relacoes sociais eurocentrados, apresentando para a comunidade academica e para a \nsociedade como um todo saberes que foram historicamente subalternizados, como no caso do \ncandomble. Talvez possamos dizer que o Forum e o Afoxe possibilitam aos membros dos terreiros \nlerem o mundo a partir de si, dos seus valores e proporem algo. Por meio das entrevistas e da \nconvivencia pudemos concluir que o Forum e uma organizacao dos terreiros para defender seus \ninteresses, resolvendo seus problemas por intermedio de articulacoes politicas e sociais. O Forum e \no Afoxe vem se constituindo como organizacao politica e se destacando no sentido de apresentar o \ncandomble para a sociedade goiana e reivindicar seu espaco nela.","PeriodicalId":322354,"journal":{"name":"História: Diálogos Contemporâneos","volume":"17 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2018-03-16","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"História: Diálogos Contemporâneos","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.22533/at.ed.59419230814","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
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Abstract
Este trabalho se desenvolve junto ao terreiro de candomble Ile Oju Ode, situado na Rua Machado
de Assis, chacara 37, Cidade Satelite Sao Luis, em Aparecida de Goiânia-GO, e nos espacos de
atuacao deste terreiro atraves do Afoxe Omo Ode e da organizacao do Forum Goiano de Religioes
de Matriz Africana. Nosso objetivo principal e pensar de que forma a atuacao do Ile Oju Ode, por
meio do Afoxe e do Forum, possibilita a valorizacao do aporte cultural afrodescendente, cria um
espaco de discussao politica no qual o terreiro se torna um espaco de ressignificacao da vida. A
convivencia diaria com esta comunidade nos mostrou a complexidade desta realidade social,
marcada por uma relacao de sociabilidade que se aproxima da observada por Catherine Walsh
(2013) ao afirmar que as pedagogias decoloniais produzem uma “intersubjetividade,
reconhecimento mutuo, solidariedade subalterna”. Desta forma religiao e organizacao politica se
misturam na busca de encontrar saidas para os problemas criados por uma sociedade racista, o que
faz surgir a necessidade de organizacao dos terreiros. As reflexoes de Carlos Rodrigues Brandao
(1999) nos orientaram no sentido de definir a pesquisa participante como uma das metodologias do
nosso trabalho. Num primeiro momento buscamos compreender a perspectiva interna, o ponto de
vista dos individuos acerca das situacoes que vivem. Compreendemos assim como Brandao (1999)
que e a realidade social com a qual nos deparamos que deve determinar as estrategias
metodologicas, e que o metodo nao e algo pronto e acabado podendo ser construido junto com a
investigacao da realidade social. O outro recurso metodologico ao qual recorremos, a historia oral,
serviu a nossa pesquisa uma vez que, objetivamos, ao recorrer a fala de nossos entrevistados,
atingir com o maximo de clareza a experiencia de organizacao contra a matriz colonial do poder,
que articula a marginalizacao social e epistemica, subalternizando saberes e populacoes, como no
exemplo do candomble. Acreditamos que nosso objetivo foi alcancado por meio da entrevista
semiestruturada, levando em consideracao que a entrevista possibilita um estudo sobre o relato dos
fatos, filtrados pela subjetividade dos entrevistados. A perspectiva teorica que utilizamos para
dialogar com nossas fontes consistiu no debate conduzido pelo grupo
modernidade/colonialidade/decolonialidade. A pesquisa nos mostrou que se quisermos podemos
pensar uma relacao entre o candomble e as reflexoes levantadas por este grupo. Podemos afirmar, a
partir da experiencia no terreiro pesquisado, que o candomble se constitui como conhecimento
alternativo a matriz do pensamento colonial, ou utilizando o conceito de Walsh (2013) como
exemplo de uma “pedagogia decolonial”. Por fim, a conclusao dessa dissertacao de mestrado
confirmou as hipoteses que levantamos no inicio de nossa pesquisa: a atuacao do Ile Oju Ode se
caracteriza como pratica de descolonizacao, uma vez que atraves do Forum e do Afoxe, organiza a
comunidade dos terreiros de candomble de Goiânia e regiao metropolitana no combate ao racismo,
a intolerância religiosa e a invisibilizacao imposta aos praticantes dessa religiao na sociedade
goiana. Nossa pesquisa nos mostrou que ha um nivel significativo de conscientizacao dos
individuos, um projeto politico. Um estudo como esse pode contribuir para se perceber a
decolonialidade como proposicao alternativa as epistemologias hegemonicas que sustentam
modelos e relacoes sociais eurocentrados, apresentando para a comunidade academica e para a
sociedade como um todo saberes que foram historicamente subalternizados, como no caso do
candomble. Talvez possamos dizer que o Forum e o Afoxe possibilitam aos membros dos terreiros
lerem o mundo a partir de si, dos seus valores e proporem algo. Por meio das entrevistas e da
convivencia pudemos concluir que o Forum e uma organizacao dos terreiros para defender seus
interesses, resolvendo seus problemas por intermedio de articulacoes politicas e sociais. O Forum e
o Afoxe vem se constituindo como organizacao politica e se destacando no sentido de apresentar o
candomble para a sociedade goiana e reivindicar seu espaco nela.