{"title":"Atenção básica e tratamento precoce contra a Covid-19","authors":"D. Moraes, Clóvis Ricardo Montenegro de Lima","doi":"10.21728/asklepion.2021v1n1.p50-63","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Neste artigo discute-se o uso do denominado ‘tratamento precoce’ contra a Covid-19 durante o primeiro ano da pandemia no Brasil. Este procedimento é analisado no contexto da crise da atenção básica do Sistema Único de Saúde - SUS. É nele que emerge o charlatanismo engajado, que ignora e despreza as evidências científicas e as boas práticas terapêuticas. A discussão inicia com o destaque da desorganização deliberada da atenção básica do SUS feita pelo governo federal de Jair Bolsonaro. É durante este processo que a pandemia chega. Entre os efeitos da ação bolsonarista está a desmobilização das equipes de saúde da família. Assim, a orientação do Ministério da Saúde foca apenas no isolamento social e na terapia dos casos graves em hospitais e nas unidades de terapia intensiva. Na evolução da pandemia cria-se conflito artificial entre proteção da saúde e retomada da produção. Na medida em que a pandemia avança, evidencia-se a lacuna da atenção básica. É neste espaço que surgem usos de medicamentos ‘fora da bula’, destacando a cloroquina, a azitromicina e a ivermectina. Bolsonaro se torna ardoroso defensor deste ‘tratamento’. Ele ignora os resultados das pesquisas clínicas que vão pouco a pouco mostrando a sua ineficácia e a gravidade dos efeitos colaterais. Deve-se que parcela importante da corporação médica e de suas entidades adere à tese bolsonarista. Considera-se adequado chamar isso de charlatanismo engajado. Finalmente, inclui-se a defesa do ‘tratamento precoce’ por Bolsonaro como parte da sua estratégia de polarização política e mobilização da sua base social em torno de notícias fraudulentas e da negação da ciência. A retórica bolsonarista tem a função específica de desprezar a doença e necessidade de medidas de prevenção, o que contribui para aumentar a incidência e a letalidade.","PeriodicalId":376410,"journal":{"name":"Asklepion: Informação em Saúde","volume":"25 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2021-07-09","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Asklepion: Informação em Saúde","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.21728/asklepion.2021v1n1.p50-63","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
引用次数: 0
Abstract
Neste artigo discute-se o uso do denominado ‘tratamento precoce’ contra a Covid-19 durante o primeiro ano da pandemia no Brasil. Este procedimento é analisado no contexto da crise da atenção básica do Sistema Único de Saúde - SUS. É nele que emerge o charlatanismo engajado, que ignora e despreza as evidências científicas e as boas práticas terapêuticas. A discussão inicia com o destaque da desorganização deliberada da atenção básica do SUS feita pelo governo federal de Jair Bolsonaro. É durante este processo que a pandemia chega. Entre os efeitos da ação bolsonarista está a desmobilização das equipes de saúde da família. Assim, a orientação do Ministério da Saúde foca apenas no isolamento social e na terapia dos casos graves em hospitais e nas unidades de terapia intensiva. Na evolução da pandemia cria-se conflito artificial entre proteção da saúde e retomada da produção. Na medida em que a pandemia avança, evidencia-se a lacuna da atenção básica. É neste espaço que surgem usos de medicamentos ‘fora da bula’, destacando a cloroquina, a azitromicina e a ivermectina. Bolsonaro se torna ardoroso defensor deste ‘tratamento’. Ele ignora os resultados das pesquisas clínicas que vão pouco a pouco mostrando a sua ineficácia e a gravidade dos efeitos colaterais. Deve-se que parcela importante da corporação médica e de suas entidades adere à tese bolsonarista. Considera-se adequado chamar isso de charlatanismo engajado. Finalmente, inclui-se a defesa do ‘tratamento precoce’ por Bolsonaro como parte da sua estratégia de polarização política e mobilização da sua base social em torno de notícias fraudulentas e da negação da ciência. A retórica bolsonarista tem a função específica de desprezar a doença e necessidade de medidas de prevenção, o que contribui para aumentar a incidência e a letalidade.