{"title":"Perda do Patrimônio Cultural em Decorrência do Maior Desastre Ambiental em Curso no Mundo","authors":"Adriana Capretz Borges da Silva Manhas","doi":"10.5216/revjat.v4.73021","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Uma parte grande da área central do município de Maceió, capital de Alagoas, que corresponde a cinco bairros, foi afetada por um fenômeno que em geologia é chamado de “subsidência”, que consiste no afundamento abrupto da superfície da terra, com pouco ou nenhum movimento horizontal, decorrente da exploração de sal-gema, matéria prima para a fabricação de plásticos, PVC e soda cáustica. Devido ao risco iminente, a população de quatro bairros foi removida, deixando mais de 15 mil residências nos bairros Pinheiro, Mutange, Bom Parto e Bebedouro (este último, uma Zona Especial de Preservação Rígida), além dos comércios e serviços que os bairros abrigavam. Três dos bairros agora fantasmas são situados próximos à Laguna Mundaú e abrigam edificações que remontam os primórdios da urbanização de Maceió. Nos dois bairros que ficam na parte alta, Pinheiro e agora também parte do Farol, estão concentrados os poucos exemplares de arquitetura modernista ainda existentes em Maceió. Mas as perdas das referências culturais vão além do patrimônio construído que pode desaparecer pela subsidência ou, como já vem acontecendo, por abandono. Elas incluem o chamado “patrimônio imaterial”, com o enfraquecimento das tradições locais, dos folguedos populares como os grupos de quadrilha e coco de roda, cuja existência está relacionada exclusivamente da relação com a territorialidade e proximidade geográfica dos brincantes, já que os grupos eram formados por parentes e vizinhos, os quais foram realocados distantes uns dos outros, inviabilizando a continuação das tradições. Essa “diáspora” pode causar a condenação das tradições que sempre foram muito presentes na cultura alagoana, e também são frutos de resistências de grupos que descendem de africanos escravizados. Sobre a possibilidade de perda e ações necessárias para se evitar o desaparecimento do patrimônio material e imaterial dos bairros atingidos trataremos neste ensaio. ","PeriodicalId":199409,"journal":{"name":"Revista Jatobá","volume":"29 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2022-06-06","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Revista Jatobá","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.5216/revjat.v4.73021","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
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Abstract
Uma parte grande da área central do município de Maceió, capital de Alagoas, que corresponde a cinco bairros, foi afetada por um fenômeno que em geologia é chamado de “subsidência”, que consiste no afundamento abrupto da superfície da terra, com pouco ou nenhum movimento horizontal, decorrente da exploração de sal-gema, matéria prima para a fabricação de plásticos, PVC e soda cáustica. Devido ao risco iminente, a população de quatro bairros foi removida, deixando mais de 15 mil residências nos bairros Pinheiro, Mutange, Bom Parto e Bebedouro (este último, uma Zona Especial de Preservação Rígida), além dos comércios e serviços que os bairros abrigavam. Três dos bairros agora fantasmas são situados próximos à Laguna Mundaú e abrigam edificações que remontam os primórdios da urbanização de Maceió. Nos dois bairros que ficam na parte alta, Pinheiro e agora também parte do Farol, estão concentrados os poucos exemplares de arquitetura modernista ainda existentes em Maceió. Mas as perdas das referências culturais vão além do patrimônio construído que pode desaparecer pela subsidência ou, como já vem acontecendo, por abandono. Elas incluem o chamado “patrimônio imaterial”, com o enfraquecimento das tradições locais, dos folguedos populares como os grupos de quadrilha e coco de roda, cuja existência está relacionada exclusivamente da relação com a territorialidade e proximidade geográfica dos brincantes, já que os grupos eram formados por parentes e vizinhos, os quais foram realocados distantes uns dos outros, inviabilizando a continuação das tradições. Essa “diáspora” pode causar a condenação das tradições que sempre foram muito presentes na cultura alagoana, e também são frutos de resistências de grupos que descendem de africanos escravizados. Sobre a possibilidade de perda e ações necessárias para se evitar o desaparecimento do patrimônio material e imaterial dos bairros atingidos trataremos neste ensaio.