{"title":"Louças e panos da terra: modelado e tecendo re-existências nas missões jesuíticas da Amazônia","authors":"Renata Martins","doi":"10.5007/2175-7976.2023.e93889","DOIUrl":null,"url":null,"abstract":"Memória, identidade e ancestralidade, as artes das cerâmicas e dos têxteis estavam presentes no cotidiano das missões jesuíticas na Amazônia, movimentando a economia através das casas de olarias e de tecelagem. Estas produções, louças e panos da terra, como aparecem muitas vezes mencionadas na documentação, dependiam dos saberes indígenas. As duas práticas artísticas se inter-relacionavam, e envolviam outras, como, por exemplo, a da produção de trançados, de cuias ou de vernizes e tintas, estreitamente conexas a um profundo conhecimento da natureza da região amazônica. Nestas criações também permaneciam códigos contidos nos objetos utilitários e/ou ritualísticos tradicionais, que foram transformados e ressignificados; como potes, cachimbos, redes de dormir, adornos. Nessas transformações, que, nas suas complexidades, podem ser verificadas através do estudo dos materiais, técnicas, formas, repertórios decorativos, atuam diferentes agências, forças e elementos consequentes do processo de globalização, e imposição do sistema colonial. As tradições consolidadas na Europa, e as de inspiração asiática, advindas da dinâmica colonial global, chegando já filtradas ao continente americano pelo gosto europeu –, são evocadas nos novos objetos, por meio de embates, negociações e re-existências. As notícias aqui reunidas almejam contribuir para que as práticas artísticas de mulheres e homens indígenas, africanas e africanos, e mestiças e mestiços – considerando as amplas diversidades culturais existentes – sejam inseridas também na história da arte do período colonial, protagonistas que foram na transmissão e incorporação desses saberes, de forma criativa e original, entre tradição e renovação, no contexto de missões.","PeriodicalId":170801,"journal":{"name":"Esboços: histórias em contextos globais","volume":"39 1","pages":"0"},"PeriodicalIF":0.0000,"publicationDate":"2023-07-10","publicationTypes":"Journal Article","fieldsOfStudy":null,"isOpenAccess":false,"openAccessPdf":"","citationCount":"0","resultStr":null,"platform":"Semanticscholar","paperid":null,"PeriodicalName":"Esboços: histórias em contextos globais","FirstCategoryId":"1085","ListUrlMain":"https://doi.org/10.5007/2175-7976.2023.e93889","RegionNum":0,"RegionCategory":null,"ArticlePicture":[],"TitleCN":null,"AbstractTextCN":null,"PMCID":null,"EPubDate":"","PubModel":"","JCR":"","JCRName":"","Score":null,"Total":0}
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Abstract
Memória, identidade e ancestralidade, as artes das cerâmicas e dos têxteis estavam presentes no cotidiano das missões jesuíticas na Amazônia, movimentando a economia através das casas de olarias e de tecelagem. Estas produções, louças e panos da terra, como aparecem muitas vezes mencionadas na documentação, dependiam dos saberes indígenas. As duas práticas artísticas se inter-relacionavam, e envolviam outras, como, por exemplo, a da produção de trançados, de cuias ou de vernizes e tintas, estreitamente conexas a um profundo conhecimento da natureza da região amazônica. Nestas criações também permaneciam códigos contidos nos objetos utilitários e/ou ritualísticos tradicionais, que foram transformados e ressignificados; como potes, cachimbos, redes de dormir, adornos. Nessas transformações, que, nas suas complexidades, podem ser verificadas através do estudo dos materiais, técnicas, formas, repertórios decorativos, atuam diferentes agências, forças e elementos consequentes do processo de globalização, e imposição do sistema colonial. As tradições consolidadas na Europa, e as de inspiração asiática, advindas da dinâmica colonial global, chegando já filtradas ao continente americano pelo gosto europeu –, são evocadas nos novos objetos, por meio de embates, negociações e re-existências. As notícias aqui reunidas almejam contribuir para que as práticas artísticas de mulheres e homens indígenas, africanas e africanos, e mestiças e mestiços – considerando as amplas diversidades culturais existentes – sejam inseridas também na história da arte do período colonial, protagonistas que foram na transmissão e incorporação desses saberes, de forma criativa e original, entre tradição e renovação, no contexto de missões.