O que a (controversa) participação de Mileva Maric-Einstein nos trabalhos publicados por Albert Einstein entre 1901 e 1905 pode ensinar sobre a iniquidade de gênero na história da ciência?

Desde a década de 1980 há uma intricada controvérsia com respeito à participação de Mileva Maric, a primeira esposa de Albert Einstein, na produção dos trabalhos acadêmicos publicados pelo marido no período entre 1901 e 1905. Este artigo se propõe a discutir a participação que Mileva teve na produção desses trabalhos. Para isso, a apresentação do episódio histórico é acompanhada por interpretações encontradas na literatura, de acordo com as quais Mileva pode ser vista como uma “caixa de ressonância” que não contribuiu com ideias próprias, ou como uma importante co-autora eclipsada pelo machismo dominante naquela época. Além de discutir a participação de Mileva na elaboração desses trabalhos, aproveitamos para incorporar contribuições oriundas dos estudos de gênero sobre a análise de episódios históricos como esse. Com esse respeito, discutimos obstáculos presentes na trajetória de mulheres cientistas como Mileva, problematizando como o discurso meritocrático pode ser utilizado como instrumento para desmerecer discussões sobre a iniquidade de gênero nas ciências. Os pontos levantados destacam a importância de que pesquisas sobre a história da ciência evitem armadilhas que contribuam para perpetuar esse cenário de iniquidade com relação ao gênero.