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Abstract
A difusão do comportamento humano orientado pelo ideário capitalista, em colaboração com normatizações de uma psicologia apolítica como ferramenta ideológica, tem nos formatado como mercadorias de uma economia individualista. O sistema econômico capitalista institui-se mantendo as segregações socioeconômicas. Neste artigo de reflexão, analisamos as interlocuções entre a psicologia analítica junguiana e as formas pelas quais o capitalismo perpetua seu ethos, ao comercializar diversidade racial como mercadoria. No cenário estadunidense, a prevalência do pensamento da supremacia branca na cultura resulta na dinâmica estrutural da branquitude, que transcende a aparência física e inclui mecanismos para manter a propriedade de privilégios raciais simbólicos e materiais, com exclusão dos não brancos. No cenário brasileiro, aparatos ideológicos e forças de repressão permanecem sob controle de certas famílias, colonizando mentes e territórios. Hooks discute o impacto da supremacia branca nas pessoas pretas e a importância do amor e da educação crítica na resistência à branquitude da vida. De que formas a difusão da lógica de mercado, aliada a uma psicologia apolítica, retroalimenta a economia individualista em que a diversidade é uma commodity? Apesar de Jung apontar como processo de individuação o duplo movimento de remoção de projeções e integração de conteúdos psíquicos inconscientes, a linguagem da psicologia analítica invisibiliza suas bases em fundamentos culturais africanistas e indígenas. Brewster nos alerta para as qualificações negativas associadas à polaridade do escuro, como gancho da sombra de pessoas brancas, ressaltando os mecanismos de alienação de si mesmo. Celeste evidencia a necessidade da reconexão com nossas linhagens no processo de cura do complexo colonial. Concluímos que a dissolução dos sintomas transgeracionais do legado racista demanda que a sociedade empenhe-se em um esforço consciente para superar as políticas epistemicidas aos não brancos.